Dois anos e quatro meses após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), mais uma vítima foi reconhecida. É Renato Eustáquio de Sousa, 34 anos, que trabalhava na mineradora como soldador. Um segmento do seu corpo havia sido localizado em janeiro pelo Corpo de Bombeiros. Devido ao tempo decorrido desde o óbito, o processamento do DNA [ácido desoxirribonucléico] demandou um procedimento mais complexo. Ontem (27), foi finalmente anunciado o resultado do processo de identificação realizado por peritos da Polícia Civil de Minas Gerais.
O rompimento da barragem, em 25 de janeiro de 2019, liberou uma avalanche de rejeitos que devastou estruturas da própria mina, comunidades e o meio ambiente. Parte da lama alcançou o rio Paraopeba, afetando diversos municípios. Ao todo, 270 pessoas morreram, das quais 260 estão agora identificadas. Os corpos das outras dez continuam desaparecidos. Os mortos, em sua maioria, eram trabalhadores da Vale ou de empresas terceirizadas que ela contratava.
Uma mensagem foi compartilhada através das redes sociais pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão (Avabrum), criada pelos familiares dos mortos na tragédia. A entidade agradeceu o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e o Corpo de Bombeiros pelo compromisso com a continuidade das buscas. “Renovamos as esperanças e seguimos motivados para continuar lutando pelo encontro agora das dez joias. Todos serão encontrados. Desistir não é uma opção”, diz o texto.
A Avabrum contabiliza 272 mortes na tragédia porque inclui na conta os bebês de duas vítimas que estavam grávidas. Em janeiro, quando o episódio completou dois anos, a entidade havia manifestado preocupação com o futuro das buscas. Ela cobrava prioridade para os trabalhos voltados para a localização dos desaparecidos. Na época, a mineradora e o governo mineiro estavam em tratativas para o acordo de reparação, celebrado em fevereiro. A Avabrum também lamentou a falta de participação dos atingidos nas negociações.
As buscas continuam. Devido às restrições decorrentes de pandemia de covid-19, elas chegaram a ser interrompidas duas vezes. A primeira paralisação ocorreu entre março e agosto do ano passado. Posteriormente, em 17 de março deste ano, os trabalhos foram novamente suspensos. A retomada ocorreu há duas semanas.
Na ocasião, a Vale afirmou estar empenhada na garantia de melhores condições para a realização dos trabalhos. “Os acessos às áreas de busca receberam melhorias e novas vias foram abertas, ampliando a capacidade para acessar toda a área que recebeu os rejeitos. Essas vias também são fundamentais para a segurança dos bombeiros e dos envolvidos durante a operação”, disse a mineradora.
Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que mais de quatro mil homens já foram mobilizados para as buscas desde o rompimento da barragem. Acrescenta que os trabalhos entrarão em breve na sua oitava fase, na qual será empregada tecnologia para a aceleração do processo de vistoria de rejeito, o que aumentará a possibilidade de encontrar e identificar os desaparecidos restantes.
“A operação já passou por sete fases diferentes, empregando todo o tipo de tecnologia e recursos existentes e se tornando a maior operação de busca e resgate do Brasil e uma referência mundial no desenvolvimento de novas técnicas e doutrinas”, acrescentou a nota.
Remoção dos rejeitos
Embora seja considerada estratégica para o avanço das buscas, a remoção dos rejeitos que se dispersaram no ambiente requer cuidados que tornam a atividade mais lenta desde o primeiro momento. Todo o sedimento recolhido precisa ser vistoriado manualmente pelos bombeiros em busca de qualquer vestígio das vítimas.
Além disso, uma série de estudos foi demandada para decidir sobre a destinação do rejeito removido. Apenas no fim de 2019, a Vale obteve autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM) e da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad) para dispor os sedimentos já inspecionados na cava da mina Córrego do Feijão. A manutenção da estrutura gerou ainda uma nova tragédia em dezembro de 2019: um trabalhador que operava uma retroescavadeira morreu soterrado com a queda de um talude, levando a uma paralisação das atividades na área. Somente em março de 2020 teve início a disposição de material na cava.
A previsão inicial era de que toda a lama depositada entre o Ribeirão Ferro-Carvão e sua confluência com o rio Paraopeba fosse removida até 2023. Segundo a mineradora, já foram recolhidos mais de 40% dos oito milhões de metros cúbicos de rejeitos dispersos nesse trecho.
Fonte: Agência Brasil