Do Centro Pop ao acolhimento institucional. Das ruas ao casamento e ao sonho da casa própria. Conheça a história de Lourrane Xavier dos Santos, 30 anos, e Welter Moreira Santos, 49. Foram sete meses da paixão que começou durante os atendimentos no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) Brasília, na 903 Sul, e terminou com uma festa de casamento realizada em 29 de novembro, organizada em conjunto pelos assistidos e pelos servidores do Serviço de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias (Saiafa), no Areal, onde o casal vive desde agosto. As duas unidades socioassistenciais são gerenciadas pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF).
A festa foi idealizada pelos acolhidos que acompanharam de perto o carinho e o cuidado que os dois têm um pelo outro. Cerca de dez dias antes, um dos usuários mais antigos do Saiafa perguntou à gerência da unidade se havia possibilidade de fazer um lanche para comemorar a união de Lourrane e Welter, que seria oficializada em um cartório de Taguatinga Norte naquela sexta-feira. Os servidores se mobilizaram para promover uma festa ali mesmo na unidade, na volta do cartório, como conta a técnica em desenvolvimento e assistência social do Saiafa, Andréia Batista, uma das organizadoras.
“O Saiafa providenciou o lanche especial com a empresa terceirizada que fornece a alimentação, o vigilante emprestou um terno para Welter, uma servidora aposentada doou o vestido de noiva, outra fez a maquiagem, o motorista que estava de abono naquele dia trocou o plantão e aguardou o casal sair do cartório para levar até a unidade, sem atrasos. Nós fizemos a decoração com os materiais que já tínhamos. Foi a união de todos para viabilizar essa celebração”, revela a servidora.
O espaço de convivência da unidade foi enfeitado para a festa, os acolhidos colaboraram com a organização e se arrumaram para receber o casal. “Quando chegamos aqui, ficamos muito felizes. Sou uma pessoa muito tímida, não costumo sorrir em foto, mas pode perceber que estou sorrindo em todas as fotografias do meu casamento”, detalha Welter.
“O que mais me chamou atenção na Lourrane foi a simplicidade dela. Isso me encantou”
Welter Moreira Santos, noivo
A noiva Lourrane conta como foi: “Nós ficamos surpresos quando chegamos aqui e estava tudo organizado. Estamos muito felizes de eles terem tido essa consideração. Foi um grande presente, era um sonho que eu queria realizar. Ficou visível como todo mundo abraçou essa causa. Estava tudo simples, mas muito sofisticado”, enfatiza. “Eu amei o vestido de noiva, serviu direitinho, a maquiagem profissional, o buquê. Fico me olhando no espelho e pensando: ‘nossa, essa sou eu mesma’. Não queria nem me mexer direito”.
Como começou
Welter se casou com Lourrane depois de sete meses de namoro. Os dois viviam em situação de rua – Welter há cinco anos, e Lourrane, quatro. Os dois se conheceram no Centro Pop Brasília e se aproximaram pelas experiências de vida em comum, como tratamento para transtorno bipolar e problemas familiares. “Um dia puxei assunto, pedi para que ela me contasse a história dela e achei semelhante à minha. Contei para ela que tenho problema de saúde e ela confirmou que tem o mesmo. O que mais me chamou atenção na Lourrane foi a simplicidade dela. Isso me encantou. Eu fiquei muito admirado quando ela me disse que era professora”, explica Welter.
“Eu, lá no Centro Pop, vendo passagem para ir embora, querendo documentação, querendo um lugar para dormir – e o Welter, sereno, sorridente. Aí começamos a conversar. Ele me pediu para contar minha história para ele e já chegou mostrando o laudo médico. Aí eu pensei: ‘opa, esse cara deve estar de brincadeira comigo, porque eu estou aqui, quase surtando, e a pessoa vem me mostrar laudo médico?’ Eu também tenho meus problemas psicológicos, também tenho meus transtornos e faço acompanhamento no Caps [Centro de Atenção Psicosssocial]. Aí juntamos as meias”, brinca Lourrane.
O casal logo se apaixonou. Com o passar do tempo, eles sentiram necessidade de procurar uma vaga de acolhimento institucional. Lourrane fez questão de ficar ao lado de Welter para que ele se mantivesse livre do uso de drogas.
“Dormimos três meses embaixo de uma árvore no Parque da Cidade até que eu fiquei muito doente, então, ela resolveu pedir no Centro Pop uma oportunidade de acolhimento, de abrigo para casais, e chegamos aqui no Saiafa”, disse Welter.
Futuro
Após o casamento, o casal conseguiu receber o auxílio para pagar aluguel, e deve sair do Saiafa nos próximos dias. A expectativa: ter a casa própria.
“Estamos inscritos no programa de habitação da Codhab [Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal]. Já entregamos os documentos necessários. Temos acompanhamento médico aqui no Saiafa, no Caps, por causa, infelizmente, do nosso transtorno. Mas estamos com pensamento positivo de que sairemos daqui preparados para seguir uma vida de casados e construir uma família”, finaliza Welter.
Lourrane complementa: “Aqui no Saiafa fomos muito bem-acolhidos e recebemos todo o aparato necessário para que pudéssemos planejar a saída da unidade, já com uma nova vida, se reinserir no mercado de trabalho, e ter uma vida melhor”.
Ao conhecer a história do casal, a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra, ressalta: “Como é gratificante saber e ver como os nossos serviços são a base para proporcionar autonomia e uma vida digna para essas pessoas em extrema vulnerabilidade, como é o caso da população de rua. Olha como é, eles se conheceram no Centro Pop, foram para o acolhimento, recebem auxílios socioassistenciais e apoio da Saúde, por meio dos Caps e Consultório na Rua, estão inscritos no programa de habitação do GDF. É a rede de proteção social cumprindo o seu papel”.
*Com informações da Sedes
Fonte: Agência Brasília