Para que a sociedade cuide de seu patrimônio cultural é preciso que ela o conheça. A partir deste princípio, cerca de 500 alunos de escolas da rede de ensino pública do Distrito Federal estão participando de uma oficina que tem como objetivo ensinar a importância da preservação do patrimônio material e imaterial de Brasília.
Em parceria entre o Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Secretaria de Educação, e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), os estudantes também aprendem técnicas avançadas de recuperação de obras danificadas, além de curiosidades sobre descoloração, desgaste e perda de pigmentos, que comprometem a aparência e a integridade dos materiais.
Para o gerente de Educação Ambiental, Patrimonial, de Línguas Estrangeiras e Arte-Educação da Secretaria de Educação, Hamilton Cavalcante, a iniciativa de ensinar educação patrimonial para alunos da rede pública vai muito além da preservação do ambiente escolar.
“Quando a gente traz o conceito da educação patrimonial, a nossa meta é fazer o estudante entender o que é patrimônio material, o que é patrimônio imaterial e como isso impacta na vida dele e como isso também influencia nas suas aprendizagens. A ideia é trazer a ideia do pertencimento e da identidade”, reforça.
“Todo esse esforço faz com que as pessoas se preocupem em cuidar do que é nosso, porque elas não vão cuidar daquilo que elas não conhecem, daquilo que elas não entendem”, completa.
Ao todo, três escolas participam do projeto: Centro Educacional Stella dos Cherubins Guimarães Trois, em Planaltina, Centro de Ensino Fundamental Caseb, na Asa Sul, e Centro de Ensino Fundamental 18 de Ceilândia, no Setor P.
Coordenadora das atividades de Educação Patrimonial da Universidade de Pelotas, Liza Bilhalva Martins explica que a oficina é dividida em três atos: o pedagógico – onde é explicado o que os restauradores de obras fazem e o que é patrimônio; o expositório – no qual os alunos participam de uma mostra de obras que foram danificadas e o trabalho que foi feito para recuperá-las; e, por fim, as atividades artísticas e práticas – quando os estudantes têm a oportunidade de colocar em prática todo o aprendizado colhido.
“Dentro do projeto tem um historiador da arte que faz uma pesquisa debruçada em cima de algumas obras para os alunos terem a dimensão do que estamos falando. Tem que compreender, tem que entender aquela obra para poder restaurá-la. Quando a gente fala que uma ânfora foi danificada e fraturada em 180 pedaços, eles ficam muito impressionados e perguntam como foi o processo de restauração. Eles gostam muito de aprender essas curiosidades. E quando se aprende nessa fase da vida, não se esquece mais. Por isso é importante você trabalhar com a educação básica e, sobretudo, com a educação pública”, pontua.
Estudante do oitavo ano do CEF 18 de Ceilândia, Bia Pereira de Oliveira, de 13 anos, conta que jamais imaginava viver essa experiência dentro de sala de aula.
“Cara, eu amei muito ter isso aqui na escola. Melhorou muito o nosso ensino, porque é uma coisa que você consegue livrar a gente de toda a pressão em cima dos estudos, sabe? Claro que nós temos que estudar todos os dias, mas são experiências como essa que fazem a gente gostar ainda mais de vir para a escola e perceber que o estudo proporciona muitos momentos bons”, ressalta a aluna.
Durante a oficina prática, Bia restaurou uma ânfora danificada. “Ficou a coisa mais linda do mundo. Cara, eu me senti muito artista. Uma experiência que eu nunca senti na minha vida. E eu vi quantas pessoas fizeram com o sorriso no rosto. Foi uma coisa muito gostosa de fazer e muito importante para mostrar como a gente tem que preservar as coisas; como é difícil construir uma arte bonita e moderna”, complementa.
Em tom descontraído e brincalhão, Davi dos Santos, 13, confessa que se sentiu o próprio Van Gogh ao pintar sua obra de arte. Com o desenho de um Yin e Yang – dois princípios da filosofia chinesa que representam forças opostas e complementares –, ele relata que aprendeu técnicas avançadas para a mistura de cores, como a sobreposição de camadas, a utilização de cores complementares ou análogas, e a triangulação.
“Eu gostei muito, é uma experiência nova para todos. Foi uma vivência muito boa para se ter no ambiente escolar. Eu reconstruí e pintei uma ânfora, desenhei um Yin e Yang. Rapaz, eu me senti o próprio Van Gogh ali. Foi uma experiência que me marcou e vou levar para a vida toda”, afirma.
A diretora do CEF 18 de Ceilândia, Elaine Rodrigues Amorim, relata que, por meio do projeto, os alunos têm a oportunidade de entender e de se apropriar da cultura, da diversidade e do patrimônio do país.
“Quando a gente democratiza esse conhecimento a alunos de regiões periféricas, a gente faz com que eles tenham a consciência que fazem parte da história e do processo de conservação desse patrimônio que não precisa ser elitizado e ser acessado apenas pela região central do Plano Piloto, por exemplo. Ceilândia também é patrimônio e tem esse direito. Foi uma experiência fantástica”, diz.
Fonte: Agência Brasília