Mais mulheres estão atuando no setor de serviços do Distrito Federal. Entre 2022 e 2023, a participação feminina na atividade econômica cresceu em 3,8%, garantindo uma maior ocupação do público feminino no mercado de trabalho. No período, a quantidade de mulheres ocupadas aumentou 2,1%. As informações compõem o boletim Mulheres e Trabalho Remunerado no Distrito Federal, produzido pelo Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). O estudo foi divulgado nesta quarta-feira (6) no YouTube e está disponível no site do IPEDF.
O boletim é realizado anualmente em alusão ao Dia Internacional das Mulheres, celebrado nesta sexta-feira (8). Os dados atualizam o quadro das relações de gênero no mercado de trabalho regional, em relação à população feminina de 14 anos e mais que está ou não em atividade. A comparação abrange os níveis de desemprego e ocupação, as alterações na estrutura ocupacional e o padrão de rendimentos, para homens e mulheres.
“Os resultados de 2023 sugerem que, lentamente, algumas barreiras à entrada da mulher no mercado de trabalho estão sendo diluídas”, elucida a diretora de Estudos de Estatística e Pesquisas Socioeconômicas do IPEDF, Dea Fioravante. “Num ano em que o desemprego aumentou para a população geral – de 15,6%, em 2022, para 16,2%, em 2023 -, o desemprego entre as mulheres permaneceu praticamente estável, com aumento de 0,1 ponto percentual. Já entre os homens, o crescimento foi de 1,1 ponto percentual”, completa.
No entanto, a diretora alega que, mesmo com avanços, a mulher ainda enfrenta uma série de obstáculos no mercado de trabalho. “Ao procurar uma ocupação, elas esperam dois meses a mais que os homens, em média. O setor de serviços é o que mais emprega as trabalhadoras, com forte destaque para o emprego doméstico. As mulheres ainda ocupam cargos mais baixos e menos valorizados. Uma herança cultural difícil, mas que precisa ser combatida”, comenta Fioravante.
A estabilidade do desemprego feminino resultou na redução da desvantagem entre homens e mulheres, já que, no caso deles, o índice passou de 13,4% para 14,5%. Além disso, embora as mulheres sejam maioria na população em idade ativa (54,6%), o percentual de homens economicamente ativos é maior. A presença feminina na inatividade é quase o dobro da masculina – 12,5% dos homens ante 23% das mulheres.
Entre 2022 e 2023, participação feminina na atividade econômica cresceu em 3,8%. Fotos: Tony Oliveira / Agência Brasília
Adesão feminina
No último ano, quatro em cada cinco mulheres ocupadas na capital federal foram absorvidas pelo setor de serviços. O grupo com maior índice de participação feminina é o de “administração pública, defesa e seguridade social; educação, saúde humana e serviços sociais”, chegando a ultrapassar 1/3 da ocupação das mulheres na região.
Outros ramos com maior adesão feminina foram o de alojamento e alimentação, informação e comunicação, atividades profissionais científicas e técnicas, serviços domésticos, e atividades administrativas. Conforme o estudo, “os lugares ocupados pelas mulheres demonstram a divisão sexual do trabalho na sociedade local, manifesto na preponderância feminina em ações associadas ao cuidado.” O setor doméstico reúne participação superlativa da população feminina, área em que elas absorvem mais de 94% dos postos.
“A evolução da mulher no mercado de trabalho é nítida, principalmente diante do aumento desse grupo no mercado de trabalho”, enfatiza a gerente de Avaliação de Políticas Socioeconômicas do IPEDF, Bárbara Carrijo. “Apesar dessa melhora na inserção laboral, a mulher ainda possui rendimentos inferiores aos dos homens, como mostram os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego. Além disso, elas são maioria em ocupações vistas como tipicamente femininas, como o caso de serviços domésticos. Essas informações mostram que ainda há espaço para melhorar a situação laboral da mulher.”
Em contrapartida, a presença feminina no setor de construção é mínima – apenas 5,5% dos empregados do ramo são mulheres. Tanto no setor de indústria de transformação (36,6%) e na área de comércio e reparação (42,1%), a participação das mulheres é inferior a dos homens.
Mais qualificação
De olho em novas oportunidades, o público feminino é o que mais busca cursos de qualificação profissional. O Governo do Distrito Federal (GDF) está atento à demanda e oferece diversos programas por meio da secretarias de Desenvolvimento Econômico Trabalho e Renda (Sedet-DF) e da Mulher (SMDF).
Os números comprovam: desde janeiro de 2023, o Renova DF formou 6.620 mulheres, equivalente a 69% do total de concluintes. O QualificaDF chegou a 24 mil formandos, sendo 65% mulheres , enquanto a modalidade móvel do programa alcançou 9.600 qualificados, sendo 75% do gênero feminino. Os saldos se repetem na Fábrica Social, em que a participação delas é superior à 95%, e nos programas Jornada da Mulher Trabalhadora, Mulheres Vencedoras, Tudo por Elas, Mulheres Empreendedoras e Capacita Mulher. Juntos, formaram 6.800 mulheres.
A presença delas também foi significativa nos programas da SMDF, que atenderam 12.987 mulheres em 2023. As capacitações oferecidas pelo ônibus da secretaria, que leva serviços itinerantes para as regiões administrativas, acolheram 4.209 moradoras. Em seguida, se destaca o Empreende Mais Mulher, em Taguatinga e Ceilândia, que ultrapassaram 4,8 mil cidadãs contempladas com cursos presenciais e online.
Outras ações também ensejam o esforço em aumentar a presença feminina no mercado e reduzir as discrepâncias entre gêneros. É o caso da Câmara de Mulheres Empreendedoras da Fecomércio-DF, iniciativa inédita no país. “A câmara trabalha para expandir a presença feminina nos postos de liderança e nos diferentes segmentos que movimentam a economia da capital, não somente nas áreas em que se concentram atualmente, como beleza, estética e vestuário. Sabemos que as mulheres têm habilidades diferentes das dos homens e são capazes de inovar com mais facilidade, tanto no ambiente de negócios, quanto na gestão de pessoas”, destaca o presidente do Sistema Fecomércio-DF, José Aparecido Freire.
Rendimentos
No último ano, mais de 60% das oportunidades ocupacionais geradas para mulheres foram para emprego formalizado, sendo 39,2% no setor público e 21,9% no setor privado com carteira de trabalho assinada. As contratações impulsionaram o aumento da ocupação feminina.
Em relação à remuneração média, mulheres e homens receberam, respectivamente, R$ 3.868 e R$ 5.145 em 2023. Os valores aumentaram de um ano para o outro – 6,6% para o grupo feminino e 7,4% para o masculino – e, com isso, houve redução na discrepância de salários oferecidos a cada gênero. Em 2022, elas ganhavam 75,7% do valor médio auferido por eles, e em 2023 o índice passou para 75,2%. O aumento dos rendimentos para mulheres é resultado, principalmente, de acréscimo salarial no setor público e no setor privado com e sem carteira de trabalho assinada.
Fonte: Agência Brasília