Equipamentos da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), o Cine Brasília e o Espaço Cultural Renato Russo (ECRR) estão sob termo de colaboração com duas organizações da sociedade civil (OSCs), selecionadas por chamamento público.
Nessa gestão compartilhada, a expectativa é de que os espaços dialoguem mais com a sociedade, ampliem a programação e modernizem o atendimento ao espectador, num modelo de parceria já testado, com sucesso, em todo o país. O investimento é de R$ 4 milhões.
Enquanto, no Renato Russo, a gestão com a entidade não governamental apresenta programação mais intensa, com a volta das clássicas oficinas de artes visuais, a parceria com o Cine Brasília entra em fase de implementação com a expectativa de trazer filmes de qualidade à tradicional tela do cinema, patrimônio material da cidade.
“Trata-se de duas usinas culturais que precisam espelhar programações pulsantes e de qualidade. O Renato Russo com as origens do teatro de resistência no Galpão e Galpãozinho e, agora, com a reabertura da gibiteca TT Catalão. O Cine Brasília com a presença imponente da obra de Niemeyer e o abrigo do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro”, contextualiza o secretário Bartolomeu Rodrigues.
Ebulição no Renato Russo
Encarregada de gerir o Renato Russo, a OSC Instituto Janelas da Arte, Cidadania e Sustentabilidade faz jus a repasse de R$ 2 milhões, com duração de dois anos a contar de abril passado. O projeto de ocupação do equipamento “visa a estimular a manutenção do espírito do espaço, voltado para formação continuada, convivência livre e espontânea, pesquisa, experimentação, intercâmbio, residência, promoção cultural e a participação social.”
“Os equipamentos desempenham papel fundamental na implementação das políticas públicas de cultura e, em especial, na promoção da economia criativa. E o Renato Russo cumpre essa missão pela multifuncionalidade de cada espaço, que atua como laboratório de novas propostas e ideias artísticas”, avalia o subsecretário de Patrimônio Cultural, Aquiles Brayner.
Frequentador do local desde 1994, o professor-doutor Lima Neto, pesquisador de história em quadrinhos, acredita que o movimento do Espaço Cultural Renato Russo vai se beneficiar à medida em que se intensificar a programação cultural, como a abertura das oficinas. Ele sugere que locais específicos do espaço, como a Gibiteca, passarão a ser mais visitados.
O artista visual Valdério Costa, que trabalha, principalmente, com xilogravura, tema de sua oficina a ser realizada no espaço, acredita que o equipamento está “num momento maravilhoso”. “Recentemente, vi um espetáculo de mamulengos belíssimo, além de uma exposição voltada para a poesia e o teatro”. Valdério também é fã da Gibiteca. “É justa homenagem a TT Catalão, com obras de um dos maiores desenhistas do Brasil, que é o Jô Oliveira”, elogia.
Cartão de visitas do Renato Russo, a reabertura da Gibiteca TT Catalão é uma referência em histórias em quadrinhos no DF, com seus 120 metros quadrados que abrigam 23 mil exemplares de diversos gêneros: revistas e livros de super-heróis, mangás, gibis infantis e graphic novels.
Conselheira Regional de Cultura do Plano Piloto, Cleide Soares endossa a avaliação positiva: “Acompanho as atividades de retomada do Espaço Cultural Renato Russo com muita esperança e entusiasmo. Neste tempo de tantas dificuldades, o espaço, com sua programação popular, dialoga e interage com a comunidade. A gente percebe, em cada detalhe, no zelo, na programação, na atração de público, esse espírito de vizinhança, de pertencimento à comunidade. Me faz lembrar muito da empolgação do TT Catalão nos tempos de começo do espaço, como se estivéssemos cuidando de casa”.
Cleide celebra a abertura do espaço para os artistas locais e para a formação de público de arte e cultura. “Celebramos cada espaço cultural aberto para o povo neste tempo complexo. As pessoas precisam de entretenimento, do encantamento artístico e da reflexão cultural para desenvolver senso estético e interpretação crítica. Arte é necessidade básica de uma sociedade”, aponta Cleide.
A atriz Camila Guerra, da Agrupação Teatral Amacaca (ATA), fundada por Hugo Rodas (1939-2022), cujo nome acaba de rebatizar o Teatro Galpão, testemunha a força com que voltam as manifestações culturais no local. “No Espaço Renato Russo, a gente observa que vai ser um ano de muita atividade cultural. Ainda bem, porque a cultura é uma parte muito importante de nossa vida, de muita movimentação crítica, estética, de fruição, que não pode ser deixada de lado na vida dos brasilienses.”
Cine Brasília modernizado
No início de maio, a Secec selecionou a OSC Box Companhia de Arte para gestão compartilhada do Cine Brasília. A entidade tem R$ 2 milhões no termo de colaboração para desenvolver, em 14 meses, estratégias e ações para incrementar a programação e modernizar o equipamento.
Além de voltar a ter uma programação comercial regular a preços mais acessíveis (R$ 10 a meia-entrada), com bilheteria aceitando cartões e transferência por pix, esses recursos financiarão internet gratuita aos usuários, água mineral e manutenção de instalações, como os banheiros.
Subsecretária de Economia Criativa, Angela Inácio, afirma que “o Cine Brasília voltará com mais brilho na sua programação. Esta gestão pretende manter o espírito de diversidade e excelência artística na programação cinematográfica, com filmes de qualidade a preços populares na programação comercial e gratuidade de ingressos em muitas mostras temáticas e em parcerias com embaixadas”.
A gestão compartilhada inclui consultorias para que o “templo do cinema brasileiro”, como é conhecido o equipamento projetado por Oscar Niemeyer, inaugurado em 1960, também ganhe uma loja e um café-bistrô.
A nova programação, além de se manter fiel ao espírito de equipamento vocacionado para a formação de público de cinéfilos, vai se fortalecer com a participação da sociedade civil por meio de curadorias especiais, que se somarão à curadoria do Cine Brasília na definição de produções a serem exibidas. As parcerias com entidades representativas das linguagens de minorias vão promover inclusão e diversidade na programação.
Um dos objetivos da parceria é cumprir a Lei do Curta. O documento legal de 1977, que enfrentou a resistência da indústria cultural e de exibidores, determinava que curtas feitos em 35 mm, de cinco a 30 minutos de duração, precedessem a exibição de produções estrangeiras.
O diretor de Eduardo e Mônica, Renê Sampaio, dá sua receita para o rumo que deve tomar a gestão do espaço de 606 assentos: “Acredito que é importante ter uma programação consistente e constante, que exiba filmes nacionais e internacionais de qualidade e do circuito de arte”, afirma.
“E considero igualmente importante abrir as portas, eventualmente, para filmes de apelo comercial. Essa mistura cria e fideliza o público. Promover temporadas de ingressos a preços populares também é fundamental. Eduardo e Mônica teve ótimo público na pré-estreia no Cine Brasília e também quando entrou em cartaz na sala”, acrescenta.
A diretora-geral do Festival Internacional de Cinema de Brasília (BIFF), Anna Karina de Carvalho, uma das curadoras da 52ª edição do Festival de Brasília, em 2019, defende que a nova gestão não deixe de privilegiar as mostras gratuitas e festivais que já tradicionalmente acontecem no espaço.
“Isso é muito importante. O nosso templo não pode deixar de ser um ponto de encontro anual, não só durante o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, mas em todas as outras grandes mostras”, defende Anna Karina.
Fonte: Agência Brasília